quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O “brasileirinho” e o “brasileirão”

O torneio de futebol do qual o São Paulo está prestes a se tornar campeão pela quarta vez consecutiva não pode ser chamado de campeonato brasileiro, muito menos de “brasileirão” – poderia ser chamado de “brasileirinho”. Como pode ser "brasileiro" um campeonato com 20 clubes se o país tem 27 unidades federativas? O número de clubes já é exclusivo por si mesmo.

O brasileirinho praticamente se restringe às regiões Leste (exceto Espírito Santo) e Sul.

Participam dele 11 clubes da região Leste, 5 da Sul, 3 da Nordeste e 1 da Centro-Oeste.

O número de clubes por estado, em ordem decrescente, é o seguinte: São Paulo (6), Rio de Janeiro (3), Minas (2), Rio Grande do Sul (2), Paraná (2), Pernambuco (2), Bahia (1), Goiás (1) e Santa Catarina (1).

São apenas 9 estados, um terço das unidades federativas.

Não há clubes de 17 estados e do Distrito Federal.

Não há nenhum clube da região Norte.

Os estados que não têm clube no campeonato brasileiro são: Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul.

Essa exclusão é característica do desenvolvimento econômico do país, cuja colonização começou no litoral. Exceto pelo ciclo do ouro, nas Minas Gerais, no século XVIII, e pelo ciclo da borracha, na Amazônia, no fim do século XIX, o interior do Brasil começou a ser ocupado há apenas 60 anos, com a construção de Brasília.

O campeonato brasileiro denuncia a nossa forma de olhar o país.

O brasileirinho revela o comportamento dos meios de comunicação do país.

O Norte do Brasil (Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, além de Amazonas, Pará e Tocantins) tem futebol. Todos os estados têm clubes e campeonatos. Tem estado cujo time mais antigo é mais antigo do que grande parte dos clubes que disputam o brasileirinho.

O futebol nos estados do Norte do país é muito diferente daquele que vemos na televisão. É como ver o futebol do Leste nas primeiras décadas do século XX. A diversidade enriquece.

Pode-se argumentar que os times desses estados não estão no nível dos times do Leste e do Sul. Sem participarem do campeonato nacional, porém, jamais evoluirão.

O futebol é reconhecidamente o maior fator de integração dos povos nos dias atuais e pode nos ajudar a ver os Brasis que não vemos.

Um novo campeonato de futebol, verdadeiramente nacional, é muito importante para o Brasil.

Um campeonato com participação de clubes (e torcedores!) de todos os estados, todas as regiões e todas as grandes cidades nos ajudará a compreender que somos todos brasileiros, que o Sul e o Leste não são melhores que o restante do país.

Acompanhando o brasileirão conheceremos não apenas times dos outros Brasis, mas também seus torcedores, estádios, cidades e cultura.

A tevê pública precisa transmitir jogos de todos os clubes, igualmente, não apenas os dos times preferidos do Rio e de SP. O futebol é muito importante para ser deixado nas mãos das televisões comerciais.

Clubes de todos os estados e do DF.

Sistema de pontos corridos, como o atual, porém, em turno único.

Jogos nos fins de semana, de março a novembro.

Cada estado e cada clube se organizam para disputar outras competições, paralelamente, ao longo do ano, em jogos no meio da semana: campeonato local, Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana, torneios diversos.