domingo, 6 de dezembro de 2009

Andrade e Marcelo, o Galo e o Flamengo

Ontem, na praça de alimentação de um xópim de Belo Horizonte, vi Marcelo Oliveira almoçando com a família. Um ano atrás, ele livrou o Galo do rebaixamento e o conduziu até o mesmo lugar em que terminamos 2009. Vamos disputar novamente a Sul-Americana que desprezamos este ano. Será com a mesma empáfia, o mesmo gogó?
Lembrei de Marcelo Oliveira vendo a entrevista do Andrade, campeão brasileiro na sua estreia como treinador. Poderia ter sido Marcelo.
Marcelo é o Andrade do Atlético, não apenas porque é mineiro também. Ambos pertencem à mesma geração e se enfrentaram em campo. Ambos são discretos e competentes, humildes e trabalhadores; nunca foram a maior estrela dos times em que jogaram, e que tinham, de um lado, Reinaldo, Toninho Cerezo, Luizinho, Paulo Isidoro, João Leite; do outro, Zico, Júnior, Adílio, Nunes, Raul. Hoje, são treinadores buscando reconhecimento - Andrade acaba de coquistá-lo, Marcelo não teve chance.
Comparo com tristeza e desânimo como as coisas acontecem no Galo e no Flamengo, há décadas. O Flamengo fez de Zico o que foi, transformando um menino franzino num atleta, assistindo-o com os melhores profissionais; até tratamento para crescer, Zico fez. O Atlético destruiu Reinaldo, um dos maiores craques da história, atirando-o contras as feras, aos quinze anos; em pouco tempo já tinha operado os dois joelhos, mais se tratava do que jogava.
Agora, foi a vez de Marcelo e Andrade, como treinadores. Apesar da demonstração de valor dada por Marcelo, a diretoria do Atlético o dispensou no fim do brasileirinho de 2008; foi buscar no Sul aquela maravilha de Celso Roth. O Flamengo até pensou em contratar algum figurão, mas transformou o interino Andrade em efetivo, quando ele demonstrou competência. Como recompensa, Andrade deu ao clube - e à torcida que gritou "Fica Andrade!" - o título de campeão brasileiro mais um vez.
Marcelo teria feito o mesmo para nós, talvez, se merecesse confiança igual. Com um elenco muito mais fraco, no ano passado, ele chegou no mesmo lugar que Roth. Se tivéssemos a humildade e a confiança que acompanham a competência e a honestidade, talvez estivéssemos hoje louvando Marcelo Oliveira, como os flamenguistas agora louvam Andrade.