sábado, 24 de abril de 2010

Lições de política e de atuação do PIG: as apostilas escolares do governo Serra

Numa rara crítica à administração Serra, o Fantástico (vídeo abaixo) mostrou, no ano passado, erros absurdos nas apostilas que a Secretaria de Educação de São Paulo distribuiu às escolas públicas estaduais. A reportagem é também uma aula sobre como atua a "grande" imprensa brasileira hoje.
O assunto é sério e merece reportagem, mas atinge frontalmente o candidato do partido da direita à presidência da República. Como fazer?
A matéria segue a cartilha: confundir, livrar a pele do Serra tanto quanto for possível ("o problema não se restringe a São Paulo") e jogar a culpa no governo federal, tanto quanto possível também.
Segue dessa forma o mandamento segundo o qual, se é imprescindível criticar os demotucanos, deve-se igualmente criticar o lulismo.
Uma coisa são os livros didáticos distribuídos pelo MEC. Certamente não são maravilhosos e contêm erros, mas são selecionados por professores de todo o país e escolhidos por cada escola.
Outra coisa são as apostilas produzidas pelo governo Serra e que substituíram os livros nas escolas públicas paulistas.
Os professores paulistas, desde o começo, foram contra as apostilas, que, além de imporem a todas as escolas o mesmo material didático, têm péssima qualidade, como mostra a reportagem da Globo. (Em casos extremos foram jogadas no lixo ou queimadas, em protestos que a "grande" imprensa condenou.)
A responsabilidade sobre os livros didáticos é compartilhada pelo MEC com os professores, enquanto as apostilas paulistas são responsabilidade exclusiva do governo Serra, que as impôs aos professores. Estas seguem a lógica ultrapassada na educação de uniformizar o ensino e depois submeter todos os alunos a provas gerais, criando uma espécie de ranking de crianças e escolas.
Se a reportagem confunde as coisas, concede diferença de tratamento ao governo paulista e ao governo federal.
A autoridade estadual entrevistada "tranquiliza os pais quanto à qualidade das apostilas", garante que foram "erros de impressão" (!) e que todo o material será reimpresso e substituído imediatamente (dez dias). Em dez dias 500 mil apostilas serão substituídas! Quem acredita? Quem vai conferir depois? Não importa, o que importa é mostrar como o governo Serra age rápido para reparar erros.
As apostilas custaram R$ 36 milhões aos cofres públicos! Isto significa um custo unitário de R$ 72. Setenta e dois reais por uma apostila com tiragem de 500 mil exemplares! E de péssima qualidade. Um livro convencional custa menos. Este é outro escândalo que passa batido. A fundação responsável pela impressão vai imprimir tudo de novo, de graça... Dá pra acreditar? Mais uma vez, quem vai conferir?
A secretária Maria Helena Guimarães de Castro, que aparece na matéria, foi demitida alguns dias depois e substituída pelo ex-ministro do governo FHC Paulo Renato. No noticiário, uma ligação discreta entre os dois episódios e nenhum tratamento de escândalo, como o partido da direita faz quando se trata do governo Lula. Podemos imaginar a escalada do Jornal Nacional: "Secretária do escândalo do livro didático pede demissão!".
Se as apostilas do Serra serão substituídas em dez dias, a substituição dos livros didáticos pelo governo federal é lenta, insinuando ineficiência: levaria três anos (!), que é o tempo que vai da escolha à distribuição dos livros...
Enfim, uma política desastrosa e criminosa do governo Serra é transformada num descaso do Estado, em todo os país. Do jeito que o partido da direita gosta.
Nessa história toda, o que realmente preocupa educadores são as péssimas e retrógradas apostilas produzidas pelo governo tucano, as quais, eleito Serra presidente, se tornariam padrão nacional.