terça-feira, 21 de setembro de 2010

Walfrido, o novo partido de Aécio e o governo Dilma

Walfrido dos Mares Guia, ex-vice-governador de Minas, no governo tucano de Eduardo Azeredo (1994-1998), e ex-ministro do governo Lula (2003-2007), uniu-se ao prefeito Márcio Lacerda (PSB), montou um escritório e faz campanha junto a prefeitos mineiros, informa o blog de Juliana Weis. Campanha para quem? Para Dilma presidente e Pimentel senador. Diz que não entra na disputa estadual entre Hélio+Patrus e Anastasia.
Maior expoente de uma família da elite mineira, da qual fazem parte seus irmãos Marcos, cientista, e João Batista, ex-deputado, Walfrido foi dono do colégio Pitágoras, fez carreira política como secretário municipal e estadual nos governos Hélio Garcia e Azeredo. Era filiado ao PTB. Em 2002 coordenou a campanha de Ciro Gomes para presidente; no segundo turno apoiou Lula e se tornou ministro, primeiro de Turismo, depois de Relações Institucionais, até que se demitiu, ao ser denunciado pelo Ministério Público por participar do chamado "mensalão mineiro", esquema que teria desviado dinheiro público para a campanha de reeleição de Azeredo, em 2002. Em 2009 filiou-se ao PSB de Ciro e Lacerda.
É interessante observar a movimentação de Mares Guia e suas companhias. Ele é um político ligado a Ciro e a Lacerda. É também ligado a Pimentel, para quem só tem elogios e faz campanha. Contra Itamar – que derrotou Azeredo, em 1998. (Será que Aécio lançou Itamar, mas agora quer eleger o amigo Pimentel?) Ciro, por sua vez, é amigo de Aécio. Lembremos o que informa Carta Capital: Aécio deixará o PSDB e criará um novo partido de oposição moderada.
Essa movimentação indica quem estaria nesse partido, gente que tem trânsito junto a Aécio e também no governo Lula.
O projeto bate com o discurso de Pimentel e Aécio, que em 2002 se uniram para eleger Lacerda. Sabe-se também que Pimentel queria ser candidato a governador, o que não conseguiu – se tivesse tido sucesso, se tivesse conseguido impor sua candidatura ao PT, se não tivesse enfrentado a resistência de Patrus, se Lula não tivesse imposto a candidatura do peemedebista Hélio Costa, talvez Pimentel fosse também o candidato do Aécio. Agora faz campanha junto com Hélio e Patrus porque não tem outro jeito.
Tem uma conta que não fecha nessa conjunção política: Ciro e Aécio cabem no mesmo partido? Ambos querem ser presidente. Ciro é, porém, um aliado fundamental de Aécio para a organização de um novo partido, pois tem expressão nacional, é liderança nordestina e disputará mandato por São Paulo. O partido de Aécio não pode ser um partido mineiro.
Com partido novo ou não, o fato é que tem muita gente que se entende nessas relações, gente que compõe o que se esboça como "oposição moderada" ao governo Dilma. Talvez não seja nem oposição, talvez seja a base de um governo de centro de Dilma. Afinal, Dilma entrou no PT recentemente – até 2001 era filiada ao PDT de Brizola, que ajudou a construir.
Um novo centro se forma no país. Nenhum desses políticos, note-se, tem grande liderança nacional, o que é uma dificuldade numa campanha presidencial. Se em 2014 a bandeira for renovação, no entanto, esses rostos novos juntos podem surtir efeito.
Mais importante, porém, é que nenhum deles tem a história de vida de Lula, nenhum deles vem do povo, nenhum deles conheceu a pobreza. É gente que convive civilizadamente, que está acostumada a exercer o poder, que faz parte da elite, que fez oposição à ditadura militar. Lula, por sua origem e sensibilidade, é único e estamos às vésperas do fim da sua era. Ao contrário do que se diz, Dilma está à direita de Lula.