terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tucanos começam a isolar Serra

Enfim. Como era de se esperar. É o que mostra a notícia do Estadão, reproduzida abaixo.
O discurso do Serra na noite da eleição foi parte do delírio que acometeu o candidato no fim da campanha. Falar em "trincheira", "fortaleza", "defesa de democracia", "a luta continua", "estamos apenas começando" não fazia sentido. Uma jornalista disse conhecê-lo há muitos anos e que ele estava muito emocionado. Penso que ele realmente acreditava que ia vencer. Penso também que ele acreditou na ficção inventada no segundo turno, para isso, e entrou em delírio.
Compassivamente, podemos desculpar seu comportamento patético, de falar depois da Dilma, tentando roubar-lhe a cena, de ter feito um discurso inflamado. O razoável era, como perdedor, ligar para a vencedora, cumprimentá-la, depois fazer um pronunciamento rápido, com elogios, reconhecendo: 1) a campanha acabou; 2) a estrela agora é Dilma.
Não podemos deixar de dizer, porém, que só ele não percebeu que aquele era seu último momento de glória. Que todos que estavam ao seu redor, todos que o aclamavam, começariam a esquecê-lo tão logo deixassem o local. O que passou, passou. Bola pra frente. A fila anda. Vamos olhar para o futuro.
E o futuro do Brasil, ao contrário do que previa aquele vídeo apocalíptico divulgado no Youtube, não inclui José Serra. Ele está velho, perdeu duas eleições, sua estratégia protofascista não deu certo. Como diz Lula, Serra saiu menor dessa campanha. E o livro do Amaury nem foi publicado ainda.
O PSDB vai persistir em ser o partido da direita paulista? Não acredito. Está provado que não chegará ao poder assim. A bem dizer, o PSDB só chegou ao poder em 94 e 98, graças ao sucesso inicial do Plano Real. Se FHC tivesse tomado as medidas que tomou em 99 antes da eleição de 98, não teria sequer sido reeleito. A onda neoliberal passou. O PSDB vai pretender voltar ao poder em 2014 falando do que fez vinte anos antes?
Serra quer que São Paulo se transforme numa fortaleza contra o governo federal, quer fazer uma nova Revolução de 1932, na qual o estado saiu derrotado. Ou seja, Serra simboliza derrota, no presente, no passado e no futuro. Se o núcleo dirigente dos tucanos o acompanhar, acabará se isolando, e o partido, que já está fragmentado e definha, longe do poder, se transformará num partido paulista.
É óbvio que prevalecerão interesses pragmáticos de muitos políticos tucanos Brasil afora, sobre os quais provavelmente Aécio Neves exercerá liderança, para que o PSDB se recicle, volte novamente para o centro, refaça suas propostas políticas e apresente ao país um modelo alternativo ao modelo do PT, melhorando ou corrigindo o que consideram populismo, assistencialismo etc.
O partido deverá buscar a renovação de quadros, não apenas na direção (FHC, 80 anos, e Serra, 70, já deram o que tinham de dar), mas na militância. E a despaulistização. Isso seria saudável para o país.
Qual é a alternativa? Tornar-se o partido da direita raivosa? Tornar-se um partido paulista? Apostar na radicalização? Incentivar o ódio entre brasileiros de classes e regiões diferentes? Tornar-se porta-voz dos evangélicos e católicos mais conservadores? Apelar para poderes sociais paralelos, como a imprensa e as forças armadas? Incentivar milícias de caluniadores na internet e fora dela?
Talvez Serra pretenda ser o líder deste partido. Resta saber quantas lideranças tucanas continuarão embarcadas nessa canoa bélica furada.

Do Estado de S.Paulo.
'Até logo' de Serra desagrada a tucanos, que defendem renovação no partido
A declaração do candidato derrotado à Presidência da República José Serra (PSDB), que em discurso sobre o resultado de anteontem disse que não dava um "adeus", mas um "até logo", causou polêmica entre tucanos e aliados, que reservadamente defendem uma renovação dos quadros da oposição nos próximos anos. (...) Há uma cobrança pela reconstrução do PSDB e a adoção imediata de uma bandeira para defender, como a reforma política, durante os quatro anos de administração Dilma. O posicionamento de Serra impede a criação de um novo canal de interlocução com a sociedade.