domingo, 12 de dezembro de 2010

'Só tem Pepsi, pode ser?'


Esta propaganda da Pepsi por pouco não se tornou uma obra de arte. Para isso lhe faltou exatamente a sensibilidade de um artista. Publicidade é uma "arte" curiosa, porque fica, escancaradamente, entre o comércio e o cinema. Atrai gente criativa, talentosa, que quer ser artista, mas precisa ganhar dinheiro. Na publicidade, ninguém pode esconder que está ali para vender, que aquele trabalho não tem nenhuma "nobreza" – embora, eventualmente, campanhas institucionais defendam bandeiras sociais importantes. Além das melhores técnicas do cinema e da informática, a propaganda vive de boas ideias (embora grande parte seja copiada do exterior – pudera: com tanta produto a ser vendido, não é fácil ser original) e quando uma boa ideia encontra uma boa execução, atinge o status de arte. É raro, porém. A propaganda da Pepsi é ideia genial, mas mal executada. "Só tem Pepsi, pode ser?" é uma das perguntas mais feitas por garçons há décadas e décadas, uma espécie de propaganda gratuita da Coca-Cola. Usá-la para o bem do anunciante foi a sacada do publicitário. Equiparar Pepsi a coisas surpreendentementes boas, mas amplamente conhecidas, colocar o produto ao lado do que é sinônimo de qualidade, daria uma bela campanha para o refrigerante. Era preciso que ela apresentasse imagens que passassem a ideia de uma maravilha escondida, menosprezada, mas não é isso que ela faz. A "amiga" não poderia ser uma deusa mascando cicletes, que se aproxima para engolir o rapaz, porque, afinal, deusas não ficam assim esperando que uma amiga a apresente. Era preciso ser aquela moça tímida, recatada, que só se desnuda quando é escolhida, e revela uma beleza surpreendentemente estonteante. Há mulheres assim, felizardos sabem, e os homens compreenderiam. Paulo Henrique Ganso precisaria estar no meio de fortões uniformizados, por exemplo, ele miúdo, encolhido, quase irreconhecível. E por aí vai. São exemplos assim que a própria propaganda sugere e o espectador espera, mas o filminho não nos dá. Passariam a ideia sutil de que estamos perdendo muito não escolhendo Pepsi. A propaganda chegou quase lá: uma boa sacada mal executada, que preferiu ficar na mediocridade dos clichês a arriscar se tornar uma obra de arte.