quinta-feira, 7 de abril de 2011

A tragédia no Rio

Para a televisão, em especial, para a imprensa, em geral, a tragédia no Rio hoje é ótima: assunto, audiência. Ninguém está interessado em ir às causas dos problemas, porque imprensa é parte da política, o que significa interesses, e os interesses dela são outros. A própria televisão estimula a violência, basta correr os canais da Net agora para ver quantos filmes e seriados são pura violência. Armas, tiros, assassinatos, chacinas foram banalizados porque a indústria da televisão e do cinema é americana e o modelo americano de vida inclui porte de arma. Importamos esse modelo e a Globo que condena o crime do Rio é a mesma que exibe filmes violentos. Pode-se argumentar que o cinema apenas mostra a realidade, mas não é verdade, primeiro, porque as coisas não são assim: o cinema mostra a realidade, mas também interfere na realidade. Grande parte da violência que ele mostra não acontece no cotidiano. O cinema explora a violência porque é bom negócio, porque sabe que tem público que gosta e que vai ganhar dinheiro com isso. O crime do Rio foi copiado de similares americanos. Mas tudo isso é apenas a superfície da questão, ainda que na superfície seja preciso atuar também, para começar desmascarando a hipocrisia das televisões e das autoridades. A indústria de armas é uma das mais poderosas do planeta: a televisão e os políticos estão dispostos a enfrentá-la? É como o cigarro, mas é também como a indústria de automóveis, que mata milhares todos os anos, mas a televisão continua vendendo a imagem de veículos maravilhosos, que nos fazem felizes e que voam nas estradas. Máquinas de matar. A indústria de automóveis tem responsabilidade sobre as mortes no trânsito e os meios de comunicação que estimulam sua compra também. Voltando às armas: ela, assim como a imprensa, lucra ainda mais com crimes assim, porque o resultado disso é intensificar os "sistemais de segurança", que é parte da própria indústria de armas. Pode-se prever que vão agora instalar câmaras de segurança, aumentar policiamento armado etc. Mas o que é preciso fazer é o oposto disso: proibir a compra de armas e munições, proibir a fabricação e a importação, o que significa restringi-la a privilégios bem delimitados. É preciso penalizar de forma tão dura quanto o próprio crime aqueles que descumprem a lei. Assim, o país estará dizendo que é pacífico, que abomina a violência e que faz de tudo para evitá-la. Somos diferentes dos americanos, que gostam de armas. E isso ainda é a superfície. Na raiz de crimes assim estão distúrbios psicológicos que podem e devem ser dectatos precocemente. Na banalização da violência está a falta de valores que a sociedade deixou de cultivar, que a família em dissolução não consegue mais incutir, que a escola não tem autoridade nem condições de ensinar. A educação baseada no dinheiro, na competição e no egoísmo, que a sociedade transmite nas empresas, nas escolas e na televisão, torna essa situação cada vez mais grave. Como as mortes nas estradas, que a cada feriadão podemos prever, novos crimes como estes no Rio também podem ser esperados. Nossos filhos não estão a salvo. A não ser que enfrentemos a realidade e ataquemos as causas do problema.