sexta-feira, 20 de maio de 2011

O eterno problema da falta de equipamentos das escolas de jornalismo

Essa matéria do Comunique-se fala de uma questão elementar: cursos de jornalismo têm que ter laboratório de rádio e professores experientes. Nem é preciso dizer isso, no entanto... Os cursos de jornalismo (comunicação) proliferaram no Brasil a partir dos anos 60 porque era muito fácil para qualquer faculdade montá-los, com professores jornalistas práticos, uma sala e giz. A prática do jornalismo se aprende em seis meses, como então preencher quatro anos? Para isso inventaram mil matérias teóricas ridículas, como "teoria da comunicação", "pesquisa em comunicação" (que no meu curso era dada em quatro semestres: I, II, III e IV) e outras do gênero. Os pobres alunos se salvavam dessa mediocridade fazendo estágios em jornais e se apegando aos poucos professores que estavam ainda no mercado ou tinham um conhecimento específico (no meu caso foram três: Charles Magno Medeiros, que trabalhava no JB, José Mendonça, grande conhecedor do português, e Plínio Carneiro, com quem aprendi diagramação). No mais era um faz de conta deprimente. Vinte anos depois que eu formei, vi minha sobrinha passar pela mesma situação, a faculdade não tinha mudado quase nada. Por isso o diploma de jornalista é tão polêmico e acabou derrubado pelo Supremo (por motivos errados, deve-se dizer: para servir os patrões). Um bom curso de jornalismo é essencialmente prático e tem professores experientes. Quantos no país são assim? Professor experiente não é apenas aquele que passou por jornal, revista, tevê, rádio, mas aquele que continua trabalhando como jornalista, não apenas como professor, porque a profissão exige atualização permanente. Professor que fica usando em sala exemplos de dez anos atrás, quando ele trabalhava em redação, é ridicularizado pelos alunos. Não é possível brincar de fazer jornais e programas, é preciso fazê-los de verdade, por isso cursos têm que produzir jornais e revistas, têm que ter emissoras de rádio e tevê. A outra coisa é a formação intelectual do jornalista: sua cultura, seu conhecimento de áreas específicas que vai cobrir (política, economia, esportes, artes etc.), línguas – nada disso, o curso de jornalismo oferece. O curso superior supõe que o estudante sabe português, mas ele não sabe, e também não vai aprender no curso de jornalismo. O resultado desse faz de conta são profissionais ignorantes, que vão obedecer chefes e repetir o que fontes dizem, sem capacidade para avaliar informações criticamente ou resistir a patrões que encomendam e vetam matérias. Quando se discutem jornalismo, é preciso levar isso em conta, em vez de ficar na superfície do problema ou radicalizando posições contra ou a favor do diploma.

Do Comunique-se.
Radiojornalismo. Como ensinar o que você nunca viveu?
Anderson Scardoelli
O jornalista Alvaro Bufarah, professor de jornalismo da Uninove e coordenador do curso de Rádio e TV da Faap, creditou o baixo preparo para a formação de novos radialistas à falta de estrutura e de profissionais experientes nas instituições de ensino superior. "Faltam laboratórios (de rádio) nas universidades", disse, durante participação, nesta quinta-feira (19/5), do Brasil Rádio Show. O profissional também culpou a falta de vivência de alguns professores para a baixa qualidade no ensino. "O mais assustador é o professor que dá (aula de) rádio nunca foi, nunca botou o pé, em uma emissora", disse Bufarah, que também é chefe de reportagem e produtor da Rádio Globo de São Paulo, ao revelar que já vivenciou casos em que os professores desconhecem a estrutura e programação das grandes rádios.
A íntegra.