sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O exemplo do Chile

Estudantes e professores chilenos fazem o trabalho do governo, consultam a população e começam a planejar uma nova política educacional: pública, gratuita e de qualidade. O desgoverno do presidente Piñera está desnorteado. Incapaz de atender as necessidades populares, acorrentado aos interesses do capital, sua única resposta é proibir manifestações e reprimi-las com o aparato policial herdado da ditadura Pinochet (da mesma forma como acontece no Brasil). Mas o movimento é vigoroso, organizado e une a sociedade. O ministro do Interior alega que quer previnir saques e Camila Valejo responde à altura: "Os saqueadores estão no governo".

Da Agência Carta Maior.
Chile: mais de 87% votam por educação gratuita e de qualidade
Christian Palma, correspondente.
Mesmo com o governo afirmando que o plebiscito cidadão pela educação não tinha validade, os chilenos participaram em massa da consulta. Na noite de quarta-feira, foi anunciado o resultado: 87% dos votantes no referendo educacional votaram pelo "sim" nas quatro perguntas formuladas no sufrágio, que consultavam a população se ela está de acordo com o ensino público gratuito e de qualidade e a favor da desmunicipalização da educação secundária pública, ou seja, seu retorno às mãos do governo federal. As outras perguntas eram sobre a eliminação do lucro na educação e sobre a necessidade de incorporar o plebiscito vinculante como mecanismo para resolver problemas de caráter nacional. Após anunciar o resultado do plebiscito, o presidente do Colégio dos Professores, Jaime Gajardo, informou que 1.027.569,00 pessoas votaram nas mesas e outros 394.873 o fizeram pela internet, enquanto que 30 mil foram desconsiderados por serem votos repetidos. Todas as atas serão reunidas, região por região, e serão organizadas no Colégio de Professores para quem quiser ver e consultar os resultados. "Foi feito um trabalho profissional de primeiro nível. Segundo os especialistas, se há algum erro ele é marginal, não mais do que 2%. O importante foi a quantidade de pessoas que participou e a tendência majoritária, contundente, inclinada e muito precisa, dizendo Sim a que haja no país uma educação gratuita; queremos que a educação não sirva para gerar lucros; queremos que haja um plebiscito vinculante para resolver esses grandes temas", defendeu Gajardo. O Colégio de Professores e os estudantes confirmaram uma nova mobilização nacional para os próximos dias 18 e 19 de outubro, na qual se pretende marchar desde quatro pontos distintos de Santiago até a Praça Itália, lugar tradicional de manifestações na capital chilena. O governo chileno afirmou que não autorizará novas marchas, em uma clara tentativa de relacionar as manifestações com os fatos de violência protagonizados por jovens encapuzados que não estão relacionados diretamente com o movimento estudantil. Seja como for, os estudantes chilenos já disseram que não ficarão de braços cruzados. A porta-voz da Confederação de Estudantes do Chile (Confech), Camila Vallejo, assinalou que a jornada de 18 de outubro será preparatória para a grande marcha do dia 19. Começará às 11 horas da manhã quando uma delegação irá ao Palácio La Moneda para entregar os resultados oficiais do plebiscito. Neste mesmo dia, às 21 horas, haverá um novo panelaço e ocorrerão assembleias locais em todo o país para seguir lutando por uma melhor educação. No dia 19, a marcha deve iniciar às 10 horas da manhã, a partir de quatro pontos distintos da Região Metropolitana. "Conversaremos outra vez com a Prefeitura e pediremos que não tentem esconder o movimento", disse Camila Vallejo. A dirigente estudantil, avaliada como uma das três figuras políticas com mais futuro no país, respondeu ao ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, que chamou os parlamentares para aprovar o projeto de lei denominado "anti-ocupações" – que pretende penalizar as ocupações de colégios e universidades – dizendo que "não aceitaremos que nosso país seja governado por saqueadores, nem que as ruas sejam tomadas por eles". A resposta de Camila foi curta e grossa: "os saqueadores já estão governando o país".
A íntegra.