sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

As contradições das privatizações petistas

Na disputa que se deu a partir do fim da ditadura, o PT venceu a luta política e conquistou o poder de forma duradoura e competente, mas o PSDB venceu a luta ideológica. É o que sustenta o artigo abaixo, ao analisar a retomada das privatizações pelo governo Dilma, com a concessão dos três aeroportos mais rentáveis do País à iniciativa privada (Garulhos, Viracopos e Brasília). A começar pelo fato de que os aeroportos são rentáveis (foi a mesma coisa feita por Collor, quando começou o processo pela venda da lucrativa Usiminas): se são rentáveis, pra que vender? Em segundo lugar, o financiamento pelo BNDES: se o dinheiro para a compra é público, por que não usá-lo para realizar obras necessárias ao setor? Em terceiro lugar, o argumento de que não se trata de setor estratégico: então por que tanta preocupação com "apagão aéreo" e o movimento na Copa de 2014 e nos Jogos Olímpicos? Por fim, a privatização contraria o programa do PT e o discurso da candidata Dilma na campanha de 2010. Tudo isso confirma o que qualquer observador atento sabe: os governos Lula-Dilma são governos social-democratas e a social-democracia é um política capitalista reformista; o PT ocupou o lugar que seria do PSDB e que ele não soube manter, por mediocridade -- o Programa Nacional de Desestatização (PND) do governo FHC foi a maior demonstração dessa mediocridade. Os quadros do PT são os melhores quadros capitalistas do Brasil das últimas décadas -- não é à toa que têm a admiração de grandes empresários e de figuras simbólicas como o ex-deputado e ex-ministro Delfim Neto, o "czar" da economia brasileira durante a ditadura militar. O PT faz o melhor para o capital e o melhor para o capital é distribuir renda, formar mercado interno (que tem protegido o País na crise internacional), favorecer a ascensão social de milhões de brasileiros das classes D e E. Distribuir aos pobres para salvar o sistema e fazê-lo prosperar é uma lição que o capitalismo aprendeu na década de 1930. Isso é feito com maior eficiência por políticos que têm a simpatia do povo, que se confundem com ele, não por mauricinhos como os do PSDB, que ainda por cima demonstraram ser incompetentes para administrar.

Da Agência Carta Maior.
Privatização dos aeroportos: capitulação surpreendente
Gilberto Maringoni
Belo Horizonte, 28 de novembro de 1999, fim de tarde. A maioria dos delegados eleitos para o II Congresso do Partido dos Trabalhadores aprova uma série de resoluções reunidas no documento O Programa da Revolução Democrática para a construção de um Brasil livre, justo e solidário. Entre elas, uma diz o seguinte: "As privatizações têm representado uma gigantesca transferência de renda do setor público para o privado. Os preços de venda foram aviltantes, muitas vezes financiados com recursos do Estado. Os efeitos sobre o crescimento da economia são inexistentes, com resultados irrelevantes no abatimento das dívidas interna e externa. (...) O PT reafirma sua posição pela suspensão imediata do Programa Nacional de Privatizações". Nas eleições de 2006, o então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva literalmente triturou seu oponente Geraldo Alckmin no primeiro debate do segundo turno com uma saraivada de ataques às privatizações. A população entendeu o que estava em jogo, após conviver por anos a fio com serviços de má qualidade e preços altos praticados especialmente pelas concessionárias de energia e telefonia. Em 2010, utilizando discurso semelhante, a então candidata Dilma Rousseff fulminou seu adversário José Serra no debate da TV Bandeirantes, como se vê neste vídeo. Pouco mais de um ano após as eleições presidenciais, o governo petista decide privatizar os três mais rentáveis aeroportos do país. Quase 90% do montante a ser desembolsado pelas empresas ganhadoras do leilão serão financiados pelo BNDES. Cenas de empresários e investidores segurando um martelo, que pareciam relegadas a um passado distante, se repetiram diante de telas e páginas da imprensa. O mercado e a mídia comemoram. E os petistas tentam justificar as acrobacias em suas teses. (...) Mais objetiva ainda foi a economista Elena Landau -- uma das principais formuladoras das privatizações dos anos 1990 -- em seu twitter: "Hoje é dia muito importante: o debate sobre privatizações se encerrou... E nós ganhamos". O PT cresceu muito, tornou-se o maior partido brasileiro, ganhou as três últimas eleições presidenciais e provavelmente ganhará a próxima. Mas entregou os pontos na batalha das ideias. Gramsci chamava isso de "transformismo". Seja o que for, é triste.
A íntegra.