sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A greve da PM na Bahia e a necessidade de reforma da segurança pública no Brasil

Mais uma vez a reportagem da Agência Carta Maior vai ao centro da questão, coisa que a velha imprensa não tem coragem de fazer.

Da Agência Carta Maior.
Crise na Bahia: papel da PM precisa ser revisto, dizem especialistas
Najla Passos
Homicídios, roubos, saques. Confrontos entre manifestantes e forças policiais federais. A violência explode nas ruas da Bahia, enquanto policiais militares de capuz na cabeça e armas em punho amotinam-se na Assembleia Legislativa, atrás de aumento salarial. As notícias que chegam do estado assustam e reacendem debate sobre o papel da polícia militar (PM), organização que tem no DNA a repressão popular e foi fartamente usada pela ditadura de 64 contra adversários. O Brasil precisa de policiamento ostensivo feito por pessoas com cabeça e treinamento militar? Policiais militares devem ter o direito à organização sindical como outras categorias, algo negado militares? São perguntas com respostas difíceis e que desafiam até governos trabalhistas, como é o caso na Bahia, onde as negociações parecem não avançam. Para o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário Nacional de Segurança Pública no primeiro ano de governo do ex-presidente Lula, mais do que discutir a legitimidade ou não desta greve específica, é preciso acabar com o vínculo entre polícias militares estaduais e Exército. "A estrutura organizacional da segurança pública no Brasil, herdada da ditadura, é um arranjo negativo para todos, que prejudica a sociedade, os governos e os próprios trabalhadores policiais", afirma. Especializado em polícias militares, o sociólogo Romeu Karnikowski lembra que elas surgiram depois da proclamação da República como milícias a serviço de oligarquias locais. "A baiana, inclusive, participou ativamente da repressão a Canudos", afirma, em referência ao movimento de caráter religioso liderado por Antônio Conselheiro no fim do século XIX. Segundo o sociólogo, com a centralização do poder militar no Exército, sob controle federal, as polícias militares assumiram a exclusividade do policiamento ostensivo nos estados. "As polícias militares deveriam ter sido extintas, mas foram reativadas pela ditadura para atuarem como forças repressivas, e não como polícias de segurança".
A íntegra.