domingo, 12 de agosto de 2012

Barcelona 1982, Londres 2012

O vôlei brasileiro masculino viveu hoje seu dia de Sarriá 1982. Curioso o José Roberto Guimarães ter lembrando do "Mestre Telê" numa entrevista que deu ontem, quando comemorava a medalha de ouro surpreendentemente admirável do vôlei feminino. Não existe o sucesso de um e insucesso de outro: o vôlei masculino é fantástico, mas também perde, como a Seleção de 82 era fantástica e perdeu. Bastava um ponto (um gol) a ambos. O mérito é todo da Rússia, assim como o mérito em 82 foi da Itália. Nem por isso a Seleção de Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior, Falcão, Cerezzo, Zico, Sócrates e Éder foi esquecida.
Vôlei e futebol são esportes muito diferentes. É incrível como um time que está vencendo por dois sets a zero e a um ponto de vencer o terceiro, de fechar o jogo em três a zero, perde o jogo por três a dois. É como se um ponto valesse por todos: o time que faz um faz todos... No futebol não é assim, o time que precisa virar corre contra o tempo e o outro resiste na retranca. Não existe isso no vôlei. No vôlei, os pontos já feitos não valem mais, é preciso continuar vencendo enquanto a partida não acabou, é preciso ser melhor do começo ao fim.
Aqueles pontos do final do terceiro set foram os mais importantes da partida. Aconteceu o que costuma acontecer: o time que vira, cresce, o time que perde, desanda. Virar um set é difícil, mas ganhar mais dois, a partir do zero, não. Vi na expressão do Bernardinho, no final do terceiro set que o Brasil tinha perdido o jogo. É claro, a Rússia podia voltar a errar e a coisa desandar para o seu lado, mas não foi o que aconteceu. Os russos fizeram uma partida impecável no quarto e quinto sets. Sua prova de fogo foi resistir no terceiro set, não deixar o Brasil abrir, mesmo diante da derrota iminente. O gigante Muserskyi encarnou o espírito do carrasco Paolo Rossi. No vôlei, a perseverança, a concentração, o detalhe são muito mais importantes.
Foi a melhor partida de vôlei que eu já vi. Infelizmente, o Brasil perdeu, mas vôlei pra mim não é futebol, e o Bernardinho, ao contrário de Telê em 82, não é um treinador que precisa vencer para afirmar valores: ele ganha tudo, e talvez a derrota, para ele, nas condições em que aconteceu, tenha sido mais importante do que a vitória. Seu livro possivelmente vai vender menos, mas...
Não gosto de vôlei, esse jogo repetitivo, de muita técnica e precisão, treinada exaustivamente, mas gosto de ver o que acontece, o que define a partida. E no caso do vôlei o circulo virtuoso e o círculo vicioso da vida se mostram mais claramente do que em qualquer outra situação. O time que acerta se fortalece, o time que erra desanda. Uma bola no chão é capaz de mudar tudo.

"Brasil está vazio na manhã de domingo, né
Olha o sambão, aqui é o país do voleibol
(De novo)
Brasil está vazio na manhã de domingo, né
Olha o sambão, aqui é o país do voleibol
No fundo deste país
Aos longo das avenidas
Nas quadras de cimento e areia 
Brasil só é voleibol
Durante duas horas e meia
De emoção e alegria
Esqueço a casa e o trabalho
A vida fica lá fora
Dinheiro fica lá fora
A casa fica lá fora
Família fica lá fora
A fome fica lá fora
E tudo fica lá fora..."
("Aqui é o país do futebol", Milton Nascimento e Fernando Brant, música do filme "Tostão, a fera de ouro".)