segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A crise em Portugal

O mais impressionante é o conformismo geral. Depois que a alternativa socialista acabou, as pessoas aceitam o arrocho econômico. O neoliberalismo que um dia se impôs para o bem -- isto é, como dizia a propaganda: o consumo ilimitado, o progresso ilimitado, as novidades tecnológicas sem fim, a democracia e as liberdades -- se impõe também para o mal -- desemprego, cortes nos salários, cortes nos benefícios sociais, retardamento das aposentadorias etc., para superar a crise econômica. Outra opção -- cortar lucros das empresas que ganham ainda mais na crise, aumentar impostos dos ricos, que não sabem o que fazer com tanto dinheiro -- não é considerada pelos governos, porque atingiria o coração do sistema. Só uma sociedade doente e anestesiada escolhe economizar nas condições mínimas de vida de quase toda a população para não deixar de pagar a dívida contraída com meia dúzia de banqueiros, que vivem de juros sobre juros, aumentando cada vez mais seu capital.

Da Esquerda.Net, via Agência Carta Maior. 
"Portugal está sendo assaltado por dentro e por fora" 
O economista e dirigente do Bloco de Esquerda Francisco Louçã defendeu sexta feira que "a única salvação da economia contra a bancarrota é reduzir a despesa cuja redução não provoca crise e não cria desemprego nem reduz os salários e as pensões das pessoas" e "essa despesa que tem que ser reduzida é a dívida", porque ela é "excessiva e abusiva"."O governo quer cortar na despesa, e chama despesa aos nossos salários e às pensões dos nossos pais", mas "não quer cortar nos 9 bilhões de euros que são pagos em serviço da dívida este ano. E é isso que arruína a sociedade portuguesa", adiantou Louçã, sublinhando que "é pago tanto nessa dívida como se gasta em todo o Serviço Nacional de Saúde".
"Portugal pagou nos últimos 10 anos 600 bilhões de euros em transferências para o estrangeiro. Este ano, Portugal já transferiu para o estrangeiro 30 bilhões de euros em dividendos e em investimentos de carteira", que representam "dinheiro produzido em Portugal que foi transferido para os beneficiários das operações financeiras ou para os titulares de ações em empresas portuguesas que não vão pagar imposto sobre esse dinheiro", lembrou o dirigente bloquista.
"Nós dizemos já basta!", enfatizou, sublinhando que "não estamos dispostos a aceitar que se corte nas pensões dos nossos pais para pagar juros a quem não devemos. Não estamos dispostos a cortar no SNS, a arruinar a economia portuguesa para a sacrificar por uma extração financeira que é um expurgo à economia portuguesa".
Segundo o coordenador da Comissão Política do Bloco de Esquerda, "o sistema financeiro não está colocando dinheiro na economia, porque recusa empréstimos à atividade econômica, que é o que cria emprego, mas está colocando todo o dinheiro para juros especulativos sobre a dívida portuguesa". "No último ano, a banca portuguesa, incluindo o BPI de Fernando Ulrich, retirou sete bilhões de euros dos empréstimos que fazia à economia para pôr outro tanto em juros de dívida, comprando dívida no mercado secundário com a expectativa de conseguir ter um negócio com juros de 15%. Ou seja, em quatro anos duplica o seu capital", avançou Francisco Louçã.
A íntegra.