sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A alegria da juventude confinada nas boates

O experiente Mauro Santayana sempre tem uma visão original e perspicaz dos assuntos.

Do blog do Mauro Santayana.
O que arranha o coração
Mauro Santayana
Para além do fato policial, que está sendo investigado e da necessária ação da justiça contra os culpados, diante das suspeitas de corrupção e da negligência dolosa que levaram ao incêndio, há que se meditar o crescente desprezo pela vida em nosso tempo. Esse desprezo pela vida é proporcional ao totalitarismo que o capital exerce sobre a sociedade mundial contemporânea. Há quase cem anos que – na mesma intensidade em que esse totalitarismo se insinuava e se instalava – alguns intelectuais, que viviam no centro dessa razão pervertida, ou seja, na Alemanha, o denunciaram, com aguda percepção.
Eles apontavam a indústria cultural, como o principal instrumento desse movimento para a dominação do mundo. A cultura, em sua visão, deixava de ser a espontânea manifestação da inteligência e da emotividade dos homens, mas se tornava um produto do capital, com o objetivo maior de servir à ordem de domínio. É assim que, na visão empresarial de um sobrinho de Freud -- o austríaco Edward Bernays, pioneiro do que chamamos merchandising -- todas as pessoas podem ser induzidas a ter o comportamento que lhes ditarmos, mediante os meios de comunicação.
É assim que hoje temos uma sociedade globalizada. Casas noturnas existem em todos os lugares do mundo, de Xangai a Manaus; de Berlim a Santa Maria. Confina-se, em espaço reduzido e rigorosamente fechado, a alegria que, até há alguns decênios, se reunia em clubes e casas de baile, de portas e janelas abertas. A cultura, em seu sentido lato, ou seja, o conjunto de hábitos, crenças e valores, que antes definiam uma sociedade em particular, passou ao circuito das coisas administradas pelo capital.
A íntegra.