quinta-feira, 25 de abril de 2013

A dengue, a saúde pública e os governos Aécio, Anastasia, Lacerda e Dilma

R$ 800 milhões para reformar o Mineirão para a Fifa, R$ 170 milhões para combater a dengue que ameaça todos os brasileiros. Unidades de Pronto Atendimento eleitas no Orçamento Participativo não saíram do papel; prefeitura preferiu gastar em publicidade. Aécio desviou recursos para saúde e fraudou prestação de contas. Todos os hospitais, inclusive particulares, estão lotados. Uma das razões é a epidemia de dengue.

Do Portal Minas Livre.
A dengue escancarou que a saúde em Minas está doente
Por Joana Tavares
Entrevista com o médico da família Bruno Abreu Gomes, que explica o que poderia ter sido feito para evitar a epidemia de dengue em Belo Horizonte e Minas Gerais.

- A dengue é culpa de quem deixou água parada em casa, do descuido das famílias?
- Primeira coisa: vários países do mundo, inclusive países que também são quentes, têm um clima tropical, são úmidos, não viveram e não vivem uma epidemia de dengue como Minas Gerais e o Brasil têm vivido. Na América Latina, países como Bolívia e Venezuela têm número de pessoas com dengue em relação à população total, que no termo técnico chamamos de incidência de dengue, dez vezes menor que Minas Gerais. Por que isso acontece? Essa é uma evidência que desmascara a teoria da prefeitura que a culpa é das famílias.
Segundo, a Prefeitura de Belo Horizonte, mensalmente, faz uma pesquisa que se chama Lira, que mede o índice de infestação de larvas do Aedes Aegypti, que é o mosquito que transmite a dengue, para ver como está a presença das larvas e do mosquito nas casas, na cidade, no estado. O índice de infestação das larvas já estava alto antes da epidemia. Então todos os técnicos já anunciavam que Belo Horizonte ia enfrentar uma epidemia de dengue nesse período das chuvas, caso a prefeitura não conseguisse controlar esses focos.

- O que a prefeitura poderia ter feito?
- A prefeitura deveria ter feito um trabalho mais forte de orientação, de conscientização, e tomado medidas para matar essas larvas, com inseticidas químicos ou biológicos. Deveria também ter construído uma estrutura de profissionais de saúde capaz de atender as pessoas adequadamente caso a epidemia viesse. Nenhuma dessas três medidas foi feita de forma adequada. Tanto é que o número de casos de dengue nessa epidemia de 2013 já é superior ao número de casos de 2010, que foi também uma epidemia importante. Então, a prefeitura e o governo estadual não fizeram tudo que podiam para evitar a epidemia, que era uma tragédia anunciada.
Outra questão importante é a carência de equipamentos públicos. Essa gestão do prefeito Márcio Lacerda prometeu para a população de Belo Horizonte a construção de mais 73 centros de saúde e sete UPA (Unidades de Pronto Atendimento) que até agora não saíram do papel. São serviços que poderiam ajudar a diminuir a demora dos atendimentos e melhorar a qualidade da atenção que se dá a cada pessoa. Uma caso que chama muito a atenção é a UPA da regional Nordeste, 1º de Maio, que está instalada de forma provisória no subsolo de um hospital, sob condições de iluminação, calor, ventilação sub-humanas. Os profissionais que trabalham na unidade e os pacientes estão submetidos a condições que podem piorar sua condição de saúde. É uma obra que está atrasada há alguns anos – foi aprovada pelo Orçamento Participativo em 2008 -- e até agora não foi concretizada.

- Qual foi o orçamento destinado para a dengue, depois do alerta dos especialistas?
- Parte dos recursos da saúde já são destinados periodicamente para as ações de prevenção à dengue. Além disso, o Ministério da Saúde investiu, depois da epidemia instalada, R$ 170 milhões, no Brasil inteiro, para enfrentar a dengue. Esse recurso ainda é muito inferior ao que deveria ter sido investido. Por exemplo, para reformar o Mineirão, os custos totais foram estimados em R$ 800 milhões. Certamente o valor investido para a dengue não dá conta de resolver todos os problemas. Estamos enfrentando hoje em Belo Horizonte uma situação em que faltam profissionais de saúde para atender todas as pessoas que sofrem com os sintomas.

- Além da conscientização, o que o poder público poderia ter feito para evitar a epidemia?
- O inseticida químico que a PBH usa, com o tempo, tende a gerar resistência das larvas do mosquito, que passam a não morrer mais com a substância. Mas há outras experiências, como no Vietnã, onde foram usados caramujos para conter as larvas, fazendo o controle biológico. O fato é que a Prefeitura de Belo Horizonte perdeu a guerra contra o mosquito. Minas Gerais é o quarto estado do Brasil com maior incidência de dengue – casos de pessoas infectadas em relação à população total – e é o estado que mais tem casos em números absolutos, e o maior número de mortes por dengue em todo o país. A dengue escancarou problemas estruturais do sistema de saúde no nosso município, no estado e no Brasil: a demora nos atendimentos, a falta de profissionais,a sobrecarga de trabalho dos trabalhadores atuantes. São problemas que já existiam e que foram visibilizados pela dengue. A dengue escancarou que a saúde em Minas Gerais está doente e precisa ser tratada com a atenção e prioridade necessária. Em outros lugares do mundo, já há sistemas de saúde que dão conta de enfrentar momentos como esse. A dengue foi a gota d'água que fez o copo transbordar. Deixou claro que estamos longe de ter um sistema único de saúde que seja gratuito, universal, que possa atender todas as pessoas de forma humana, com qualidade. Como nós queremos e como o povo brasileiro lutou na construção do SUS.
A íntegra.