sexta-feira, 24 de maio de 2013

Crianças francesas não têm déficit de atenção

Desde o final do século XIX, a medicina passou a se encaixar no capitalismo como indústria -- a indústria da doença. O que importa é pagar hospitais, exames e remédios. A doença virou um mal estranho ao paciente e o médico virou um receitador de remédios e solicitador de exames. Curar não interessa, prevenir muito menos, buscar as causas nem pensar; o melhor doente é o doente crônico, epidemias são muito bem-vindas, pela simples razão de que doença é lucro, não é para diminuir, mas para aumentar: quanto mais doenças, mais remédios, mais exames, mais hospitais, mais lucros. Ou alguém acredita que com tanta ciência, tanta tecnologia, tanto conhecimento faz sentido a gente adoecer mais do que um indígena que vive na selva?
No Brasil, médicos e "grande" imprensa fazem propaganda do modelo mercantilista americano.

Da revista Samuel.
Por que as crianças francesas não têm Déficit de Atenção

Nos Estados Unidos, pelo menos 9% das crianças em idade escolar foram diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), e estão sendo tratadas com medicamentos. Na França, a percentagem de crianças diagnosticadas e medicadas para o TDAH é inferior a 0,5%. Como é que a epidemia de TDAH, que tornou-se firmemente estabelecida nos Estados Unidos, foi quase completamente desconsiderada com relação a crianças na França?
TDAH é um transtorno biológico-neurológico? Surpreendentemente, a resposta a esta pergunta depende de você morar na França ou nos Estados Unidos. Nos EUA, os psiquiatras pediátricos consideram o TDAH como um distúrbio biológico, com causas biológicas. O tratamento preferido também é biológico — medicamentos psicoestimulantes, tais como Ritalina e Adderall.
Os psiquiatras infantis franceses, por outro lado, veem o TDAH como uma condição médica que tem causas psicossociais e situacionais. Em vez de tratar os problemas de concentração e de comportamento com drogas, os médicos franceses preferem avaliar o problema subjacente que está causando o sofrimento da criança; não o cérebro da criança, mas o contexto social da criança. Eles, então, optam por tratar o problema do contexto social de fundo com psicoterapia ou aconselhamento familiar. É uma maneira muito diferente de ver as coisas, comparada à tendência americana de atribuir todos os sintomas de uma disfunção biológica a um desequilíbrio químico no cérebro da criança.
Os profissionais franceses não usam o mesmo sistema de classificação de problemas emocionais infantis utilizado pelos psiquiatras americanos. Eles não usam o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou o DSM. De acordo com o sociólogo Manuel Vallee, a Federação Francesa de Psiquiatria desenvolveu um sistema de classificação alternativa, como uma resistência à influência do DSM-3. Esta alternativa foi a Cftmea (Classification Française des Troubles Mentaux de L'Enfant et de L'Adolescent), lançado pela primeira vez em 1983, e atualizado em 1988 e 2000. O foco do Cftmea está em identificar e tratar as causas psicossociais subjacentes aos sintomas das crianças, e não em encontrar os melhores band-aids farmacológicos para mascarar os sintomas.
A íntegra.