domingo, 19 de janeiro de 2014

O rolezinho e o apartheid brasileiro

Não é novidade, é assim desde 1888, quando o Império aboliu a escravidão, sem que o Estado se movesse para garantir igualdade "na largada" para todos (expressão do insuspeito Delfim Netto), coisa que a República nascente no ano seguinte também não fez.
No Brasil, a cor da pele, o jeito de vestir, o cabelo, o palavreado foram sempre motivos de discriminação.
A polícia é uma na zona sul e outra no morro.
A cultura dos pobres é considerada crime. Sambista já foi sinônimo de vadio.
A novidade é que nos últimos 11 anos o povão entrou na sociedade de consumo e quer fazer o que os de cima podem, quer ser igual.
E aí os xópins dos ricos, a justiça dos ricos e a polícia dos ricos dizem que não.
Tem mudanças que são imperceptíveis e irreversíveis. Os pais (e avôs e bisavôs etc.) dos jovens de hoje foram "educados" como inferiores e por isso "reconheciam o seu lugar". Esses jovens cresceram nos anos Lula, em que o status do pobre mudou, e foram "educados" com outro tipo de consciência. Por isso reagem, não se submetem.
E os ricos ficam apavorados.
Estamos vivendo no Brasil uma época equivalente àquela da luta pelos direitos civis nos EUA, nas décadas de 50, 60, 70. Não é pacífica.
PS: Esse xópim Iguatemi está fazendo propaganda de uma unidade em construção em Minas.

Do Brasil 247.
Veto a rolezinho consagra o apartheid brasileiro
Em janeiro de 1989, ainda no governo do ex-presidente José Sarney, foi promulgada a Lei 7.716, que define os crimes de preconceito de raça ou de cor. O artigo quinto é claro e define como crime "recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador". As penas de reclusão variam de um a três anos.
Foi exatamente isso o que ocorreu ontem no shopping JK Iguatemi, do empresário Carlos Jereissati, quando seguranças fizeram uma triagem para definir quem poderia entrar e quem deveria ficar de fora – no segundo grupo, estariam todos aqueles que tivessem aparência de jovens da periferia, ou seja, pardos ou negros.
Cientes de que não poderiam discriminar clientes de forma tão explícita – até porque a lei 7.716 é clara e tem penas severas –, os donos do shopping só conseguiram fazer a triagem porque obtiveram uma liminar judicial. Ou seja: o preconceito foi respaldado pela Justiça.
Temia-se que jovens da periferia realizassem no JK Iguatemi, Meca do luxo, em São Paulo, um "rolezinho" – manifestação que afirma a identidade desses jovens e tenta mostrar para a sociedade que não são invisíveis ou cidadãos de segunda classe. No entanto, com a liminar, a Justiça contribuiu para que fosse erguida, em São Paulo, a muralha do preconceito.
A íntegra.