sexta-feira, 27 de abril de 2018

Marielle e a democracia

Marielle era brilhante (continua brilhando em vídeos).
"Cuida de quem? Do empresário ou do morador da favela?", diz sobre o prefeito do Rio eleito com os votos da favela e governando para os donos de ônibus.

A gente precisa entender como é que a direita se apropria das bandeiras da esquerda. A democracia, principalmente. A campanha do impeachment foi feita em nome da democracia! Derrubar a presidenta eleita pela maioria foi propagandeada como defesa da democracia.
Os golpistas foram para as ruas com as cores e a bandeira nacional. E o golpe está destruindo o Brasil e entregando as riquezas nacionais para as multinacionais.
A é contra o povo, mas faz o discurso a favor do povo.
E a esquerda? Foi para as ruas com a bandeira do PT e com a cor vermelha. O que possibilita que seja identificada com um partido já condenado e com uma cor de "comunistas".
A direita marca a esquerda como uma parte (comunistas, baderneiros, vagabundos etc.) que está contra o todo (o Brasil, os honestos, os que trabalham e produzem etc.).
Por que a esquerda não se apropria das cores nacionais? Por que não defende a democracia? Por que não faz a disputa das ideias, dos valores, dos símbolos? Por que não demonstra na prática que é ela quem é o que a direita diz que é, e que é a direita que é o que diz que a esquerda é?
Por que a direita é competente na disputa ideológica e a esquerda é incompetente?
Marielle tinha uma nova consciência, lúcida, prática, da experiência, sincera, popular.

Na onda dos anos 70 e 80, do acaso da ditadura, o PT irrigado pela igreja católica progressista, das comunidades de base, nas favelas, nos bairros pobres, nas periferias. Agora as comunidades pobres estão tomadas pelas igrejas evangélicas, que são predominantemente de direita. Como isso aconteceu? A esquerda precisa fazer a disputa com as igrejas evangélicas, precisa ser uma alternativa melhor para os pobres, precisa mostrar que os desejos dos pobres virão com a democracia e não a ideologia (teologia) da prosperidade. Mas para isso precisa ter uma prática coerente e um programa concreto de governo. O que a esquerda quer? Não é o socialismo utópico dos marxistas (!), é a democracia, com igualdade, liberdade, respeito.