segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A herança da Abril

Quem trabalhou, ainda que por alguns meses, na Editora Abril sabe quão fascinantes são aquela estrutura e aquele conhecimento acumulado em mais de meio século de produções editoriais. A isso some-se o estilo paulista de trabalhar, único no país, e assimilado por profissionais que migram de todos os estados. Por isso mesmo é lamentável o que os herdeiros de Victor Civita (proprietários) e de Mino Carta (jornalistas) fizeram com a empresa. Isso me vem à cabeça ao deparar, por acaso, com uma página sobre a história da educação brasileira que a Abril mantém. Nos anos 70 a Abril foi importante na formação de muitos brasileiros, com a popularização da cultura, um trabalho que uniu intelectuais e jornalistas, e produziu inúmeras publicações em fascículos como clássicos da literatura, clássicos da música erudita, clássicos da música popular brasileira, história da pintura e outros. Tais coleções combinavam qualidade de texto, qualidade gráfica e qualidade de seleção. Numa época de ditadura militar eram uma luz para muitos, um ar puro para se respirar e garantir a sobrevivência do conhecimento. É uma pena que tudo isso tenha se perdido. Na verdade, não se perdeu, enquanto a estrutura da Abril estiver intacta. O que é preciso é que volte a ter orientação progressista, que abandone a combinação de fascismo e neoliberalismo que tem caracterizado a editora, especialmente a revista Veja, nas últimas décadas.