quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Pré-carnaval em BH: blocos, marchinhas, humor e censura

Carnaval em Belo Horizonte é pré-carnaval -- na semana mesmo a cidade fica vazia e tranquila de dar gosto. Todo ano aparecem blocos novos e divertidos, a começar pelos nomes: "Podia ser pior", "Mamá na vaca", "Praia da Estação", "Trema na linguiça", "Batiza esse nenê", "Virgens do formigueiro quente", "Sou bento mas não sou santo" e vários outros. Além do decano, a Banda Mole, criado pelo saudoso professor Plínio Carneiro. Vários fazem troça da nunca suficientemente troçada política brasileira. E tem as marchinhas com bem-humoradas críticas ao presidente da Câmara de Vereadores e ao prefeito da capital, que podem ser ouvidas no blog do Felipe Patury. O tucano Burguês ameaçou o autor com processo. Falta só o bloco "Interdita antes que caia", dos funcionários da "Cidade" Administrativa.

Da revista Época.
"Começa com 'm' e termina com 'erda'. Adivinha?"
2/2/2012
Quem chutou a resposta, provavelmente errou e, talvez, por muito. A frase, na verdade, virou refrão de uma marchinha de carnaval composta em homenagem ao prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB) — cujo nome e sobrenome, diga-se, também começa com a letra 'm' e tem 'erda' no fim. A canção foi composta pelo produtor Renato Villaça e seu colega João Basílio e está virando hit na capital mineira. A música compete no próximo sábado com outras nove marchinhas no Baile da Banda Mole, um tradicional bloco de rua do centro de Belo Horizonte que organiza o chamado "Concurso de Marchinhas Mestre Jonas". O nome do concurso, que recebe apoio oficial da prefeitura, é uma homenagem a um músico local. Aquelas que obtiverem os três primeiras lugares receberão, respectivamente, R$5 mil (1º lugar), R$3 mil (2º lugar) e R$1 mil (3º lugar). Faça-se justiça: a "Marchinha da Estação", como foi batizada, não menciona literalmente em nenhum de seus versos o nome do alcaide belo-horizontino. Mas a alusão e o escárnio com o gestor são claros. Há até, em seus últimos versos, um reconhecimento aos altos índices de aprovação obtidos por Lacerda (diz a letra: Não sei se é propaganda ou se é de verdade / Parece que ele é mesmo uma unanimidade!). Em outro verso, o motivo de gozação é um decreto municipal que proíbe a realização de eventos em praças públicas. Em Belo Horizonte, o tal decreto gerou um movimento autodenominado Praia da Estação. Como maneira de protestar contra a proibição, alguns belo-horizontinos passeiam pela Praça da Estação em trajes de banho de mar: pouco vestidos em biquínis, sungas e toalhas, desfilam pelo centro da cidade. Não é preciso ir muito longe para adivinhar que o tal movimento, é claro, também virou marchinha. É a "Plaza de La Estación", que diz: "Ô Préfe, não proíbe a minha praia / Ela é de cimento, mas é lá que eu tiro a saia". Ainda há outras composições inspiradas na política local. A primeira a estourar nas paradas, inclusive, é a chamada "Na coxinha da madrasta". A canção homenageia outro político local, o presidente da Câmara Municipal Léo Burguês (PSDB). No ano passado, o vereador teria apresentado como justificativa para receber sua verba indenizatória um total de R$ 62 mil em notas fiscais obtidas em uma mercearia da mulher de seu pai. Disso, nasceram os versos "Agora BH já tem Édipo e Jocasta/ Burguês pôs o seu cigarrete na coxinha da madrasta / Milhares de reais por mês na coxinha do Burguês". Não sem razão, o vereador, cujo somente o sobrenome já vale marchinha, não gostou e acionou seus advogados. Eles avisaram o autor, o músico Flávio Henrique, que sua música poderia render-lhe um processo por difamação. O compositor retirou a música do ar assim que recebeu a ameaça. Mas não teve jeito, a canção se espalhou pela cidade e caiu no cancioneiro dos foliões. "Minha ideia foi só fazer uma brincadeira com uma notícia que saiu nos jornais daqui. Mas agora ouço a galera cantando a música até na padaria", diz Flávio Henrique.