sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O PT e a crise capitalista

Ruim com o governo Dilma, muito pior com um governo de direita. Vimos isso quando a crise começou, em 2008, e os tucanos -- Serra à frente -- defenderam cortes de despesas do Estado, nos investimentos e nos benefícios sociais. Lula fez o contrário disso e virou exemplo internacional. A Europa seguiu o receituário neoliberal e continua mergulhada em desemprego, queda na renda e todos os sofrimentos decorrentes da crise para os trabalhadores. Enquanto isso, os capitalistas ficam ainda mais ricos.
Este é o mundo atual, um mundo de crise capitalista -- uma imediata, que destrói as riquezas criadas pela civilização, e outra mais longa, que destroi o planeta e as condições para a vida humana nele --, mas não é isso que vemos na "grande" imprensa. Concentrados em poucas mãos reacionárias, que se beneficiam da crise capitalista, os grandes veículos mostram outro mundo, atribuem os problemas à esquerda, travam uma cruzada moralista contra esta -- como se não fosse o próprio capitalismo a origem da corrupção e a imprensa não estivesse envolvida nela.
O liberalismo acabou há um século, numa sequência de pesadelos que aterrorizou a humanidade: a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Grande Depressão de 1929, o nazifascismo (1922-1945), a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O capitalismo foi salvo por reformas que criaram o estado de bem-estar social, o mesmo que o neoliberalismo tratou de destruir nas últimas décadas. Essa gente não tem a menor competência para dirigir as sociedades humanas, basta comparar os governos neoliberais de Collor e FHC com os governos de Lula e Dilma.
A concentração da comunicação nas mãos da direita reacionária distorce as informações que as populações recebem. Por isso a batalha da informação é talvez a batalha mais importante dos dias atuais. Nunca tivemos governos tão democráticos e republicanos quanto os governos do PT; no entanto, o oligopólio formado por Globo, Veja e Folha dá a impressão de que se trata do decênio mais corrupto da história brasileira (antes tinha sido o governo de Getúlio Vargas, "o mar de lama", outro presidente popular, não por coincidência). Há décadas não tínhamos tanto crescimento e nunca antes tivemos tanta distribuição de renda, mas o oligopólio da comunicação ataca sistematicamente as políticas governamentais.
Se os governos FHC recebessem a oposição sistemática da "grande" imprensa que recebem os governos petistas, pensaríamos que estávamos no inferno. Da mesma forma, se os governos do PT recebessem o apoio de Globo, Veja e Folha que os governos tucanos receberam, pareceria que estamos hoje no paraíso.
O eleitor percebe isso, como a reeleição de Lula, a eleição de Dilma e o crescimento do PT em 2012 -- apesar da campanha do "mensalão" -- demonstraram; o povo brasileiro prefere votar segundo seu próprio juízo em vez de seguir a opinião do oligopólio da comunicação e dos artistas globais, falsos intelectuais e jornalistas que ele mobiliza. A vida da maioria dos brasileiros melhorou e os eleitores não querem pôr no poder novamente gente que vai destruir isso, que vai governar contra eles. Até quando, no entanto, vai durar isso?
Em 2012 a direita conseguiu manipular um julgamento político contra líderes do PT e em seguida apontou suas baterias contra Lula. É uma novidade política: usar o judiciário, e em especial o STF, para fazer política. Já que não vencem eleições, os reacionários apelam para a transformação do STF (aparentemente imparcial e no qual a população confia) num poder acima dos outros, com "o monopólio da última palavra", numa clara afronta à Constituição, que diz no seu Artigo 1º que o poder emana do povo e por ele é exercido, diretamente ou por seus representantes eleitos. Os ministros do STF não foram eleitos e o Senado tem poder constitucional para cassar seus mandatos.
A direita aposta na radicalização e no enfrentamento, quer claramente intimidar o governo e torná-lo refém. E cooptar Dilma. Não foi à toa que Veja deu à presidente uma capa laudatória, dizendo que o PT ficaria contra ela e a revista a apoiaria. O esquema foi montado para que Dilma rompesse com Lula e guinasse à direita na reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa -- mas a presidente não caiu na armadilha.
Está tudo muito claro para quem quer ver -- o povo talvez não veja, mas sente. Só uma parcela da classe média que se considera culta e inteligente -- mas na verdade é preconceituosa e manipulada -- continua se informando por meio de Veja, Folha e Globo, cujas tiragens e audiência despencam.
A política dos governos do PT em relação ao oligopólio é de não enfrentamento: os cães ladram e a caravana passa. Até agora tem dado certo, mas continuará assim? Essa gente acumula uma força política desproporcional à sua influência social e econômica. Sua aliança com o STF criou um poder que nunca existiu antes, no qual, por meio de reportagens sensacionalistas e mentirosas, a "grande" imprensa dita o que o STF deve fazer. Se Veja, Folha e Globo, numa campanha similar à do "mensalão", disserem que Lula tem de perder seus direitos políticos ou que Dilma deve ser impedida de governar, o STF também acatará?

Da Agência Carta Maior.
O governo precisa dar à crise o seu nome 
Por Saul Leblon
A mídia tanto insiste em confundir que às vezes até setores progressistas parecem acreditar. Mas é preciso ficar claro: o nome da crise é capitalismo e não esquerda; não PT -- ou governo Dilma, como quer o jogral embarcado nas virtudes dos livres mercados, os mesmos que jogaram o planeta no pântano atual.
O conservadorismo não tem agenda propositiva a oferecer, exceto regressão à matriz do desmazelo atual.
A preparação do V Congresso do PT, que acontecerá em 2014, é a oportunidade para que isso ocorra no Brasil de forma organizada. Com convidados de dentro e de fora do partido. De dentro e de fora do país. E cobertura maciça da mídia alternativa, a contrastar o bombardeio de veículos sempre alinhados às boas causas democráticas.
A íntegra.

Do Página 12 via Agência Carta Maior. 
O "Lulismo" e os meios de comunicação
Apesar da inegável capacidade de Lula de estabelecer com as camadas populares uma relação profunda de identificação, o poder dos meios de comunicação na sociedade brasileira não foi minado. Lula é percebido como alguém que ameaça, com sua estima popular e com suas possibilidades presidenciais até 2014, o status quo midiático brasileiro. Destruir o capital político do ex-presidente, que havia crescido com o triunfo de seu candidato Fernando Haddad nas últimas eleições municipais, parece ser um objetivo visível. O artigo é de Ariel Goldstein.
A íntegra.