sábado, 5 de abril de 2025

Música do dia: Desculpe o auê, Rita Lee

Não sou fã da Rita Lee depois dos Mutantes, gosto de uma coisa ou outra, sobretudo do show inesquecível que vi dela com Gilberto Gil no Ibirapuera em 199 ou 2000, na melhor companhia. Esta canção é exceção, uma pérola, um John Lennon pós-Beatles. As comparações param aí, porque não existem propriamente Mutantes pós-Mutantes, só Rita Lee, que seria Paul, e Paul não fez muita coisa depois, só pérolas pontuais também; não há John Lennon nos Mutantes pós-Mutantes. Desculpe o auê é a Jealous Guy da Rita Lee, seu momento John Lennon pós-Mutantes, sem o mesmo fôlego, mas a mesma graça. Se ela tivesse cantado isso para mim naquela época, talvez ainda estivéssemos juntos cercados de filhos ou eu tivesse morrido Roberto do lado da minha Rita. Feliz aniversário.

 

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Trailer do documentário Pau D'Arco

Você teria coragem de depor contra a polícia?, pergunta a Repórter Brasil ao divulgar o documentário Pau D'Arco. A Amazônia é o faroeste brasileiro, manda a força, que faz justiça pelas próprias mãos, formando exércitos de jagunços, inclusive policiais militares, e compra autoridades. E qual é a força? O capital, pelas mãos dos seus escravocratas capitalistas, que destrói a floresta e extingue espécies, inclusive humanas, para criar gado e plantar soja para exportação, para promover o "progresso", nome socialmente aceitável do lucro abundante e crescente que a destruição do ambiente gera. E assim caminhamos todos juntos para a catástrofe das mudanças climáticas e do fim da civilização.  

 

Música do dia: Luz negra

Ninguém melhor do que Cazuza para interpretar essa canção do Nelson Cavaquinho.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

O Japão "estagnado", segundo a BBC News Brasil

Fiquei estupefato com essa reportagem absurda da BBC News Brasil, que tanto elogio. Depois de listar supostos problemas da economia do Japão e afirmar que ela está "estagnada", a repórter diz que, "apesar de tudo isso, não tem nenhum protesto nas ruas". "Parece que vai tudo bem": a criminalidade é muito baixa, a expectativa de vida é muito alta, a inflação é mínima, o desemprego também, a educação é excelente, a saúde também. Ou seja, qualidades viraram defeitos, que impedem a população de reagir. Uma inversão completa. 

Um "defeito" dos japoneses que torna ineficazes medidas econômica governamentais é que eles preferem poupar e se prepararem para o futuro a consumir freneticamente e se endividar, como os americanos e povos que seguem seu modelo. No Brasil mesmo isso aconteceu nas duas décadas do Plano Real e do governo Lula. A ideologia justifica tudo e na época considerava uma maravilha que os pobres tivessem entrado no "mercado de consumo". Como se viu, não durou e hoje o endividamento dos trabalhadores é tão grande que o governo liberou o FGTS para pagamento de empréstimos consignados. Se isso fosse feito por um governo de direita, seria denunciado como um crime contra os trabalhadores, assim como foi a reforma trabalhista de temer e do bozo, mas como foi cometido por um governo "de esquerda" e tolerado pelas centrais e sindicatos dos trabalhadores. Afinal, é para isso mesmo que servem os governos do PT, para tomar medidas a favor do capital e contra os trabalhadores sem que estes reajam. 

Outro suposto problema do Japão é que sua população está diminuindo; foi a primeira nação desenvolvida em que isso aconteceu, o que poderia ser um indicador de que o Japão está na vanguarda. Num mundo em que o consumo crescente e estimulado destrói a Natureza e a população humana cresce aumentando o consumo e a destruição, o decréscimo populacional me parece ser uma boa notícia. Para a matéria, porém é mais um aspecto da situação "complexa" do Japão "estagnado". A produtividade dos trabalhadores japoneses é baixa porque "tem muita gente empregada", se houvesse desemprego, se as empresas trocassem gente por robôs, a produtividade aumentaria, sugere a matéria. Uma espantosa analista britânica diz que no Japão a gente encontra "seis pessoas orientando o trânsito", ou seja, trabalhando, mas isso é desnecessário. Elas poderiam ser demitidas e substituídas por robôs, deduzimos. 

A mesma analista afirma que o governo japonês tenta fazer a economia "pegar no tranco", estimulando o consumo e baixando juros, mas não consegue. A impressão que dá é que a vida no Japão está miserável, para que seja necessário o crescimento que a BBC News Brasil e suas fontes querem, mas não está, o povo está satisfeito, como a própria matéria mostra. O "problema", portanto, não existe para as pessoas, para os trabalhadores, para os japoneses, o problema existe para o capital, porque, para o capital, a economia só vai bem se há crescimento, porque crescimento significa lucro, capital só existe crescendo permanentemente, e quanto mais melhor, para o capital, e para seus escravos de luxo, os capitalistas. 

Esta é a questão e é uma questão ideológica, é assim que o capitalismo funciona. Mesmo os ideólogos marxistas, supostos inimigos do capital, concordam que a economia precisa crescer. O que significa que, na prática, são capitalistas, porque o que promove o crescimento é o capital, sua expansão permanente: dinheiro que não aumenta no fim da sua aplicação não é capital, é só dinheiro, equivalente geral, meio de troca. O crescimento é bom, o desenvolvimento é bom, o progresso é bom, o capital é bom -- essa é a nossa ideologia, a ideologia do sistema capitalista, e todos nós acreditamos nisso, inclusive os marxistas. A diferença é que os marxistas querem que o capital esteja sob controle do Estado. Pois bem, a China está fazendo isso. A China "comunista" é uma nação comunista ou capitalista?

Eu fico imaginando por quantos cursos passou e quantas línguas fala essa repórter evidentemente muito qualificada para dizer uma estupidez assim. Não é ironia, nenhum jornalista trabalha na BBC se não for muito qualificado, e ela efetivamente se qualificou para falar isso, que é uma expressão da ideologia capitalista. Ter uma vida boa (emprego, renda, educação, saúde, segurança, ou seja, os famosos "indicadores") é o que as populações de todas as nações querem, mas se a economia não cresce como crescia, se as fábricas não substituíram gente por robôs, se as empresas não promoveram desemprego em massa, se os computadores ainda usam disquetes e os faxes ainda estão em operação, então o país está atrasado. Até as tampas de bueiros japonesas são questionadas na matéria.

A reportagem poderia mostrar o contrário, como os japoneses estão satisfeitos com sua vida, apesar de o Japão não acompanhar a loucura de "modernização" de outras nações; poderia apontar os "sinais de atraso" e por que eles não prejudicam a qualidade de vida, ao contrário, contribuem para ela. Entretanto, faz o discurso ideológico da modernização como um objetivo em si. A repórter sequer percebe o ridículo que é falar em "parar no tempo" referindo-se a um período de duas décadas para uma civilização milenar. Quem sabe, abordando isso, não poderia fazer matéria muito mais relevante sobre como a cultura japonesa se impõe sobre a ocidentalização e cria até uma alternativa sábia à destruição frenética da vida pelo capitalismo? 

A matéria também não pode afirmar, embora nos deixe depreender isso, que o Japão é um títere americano, que foram os EUA que despejaram capitais para reerguer a nação asiática depois de despejarem bombas atômicas sobre sua população, que significaram o fim da Segunda Guerra Mundial. E que, mais tarde, quando sua economia se tornou a segunda maior do mundo, superada apenas pela americana, a obrigaram a reduzir a competitividade dos seus produtos. A matéria, enfim, não mostra muitos aspectos desse contextos que ajudariam a compreender melhor o Japão. Prefere o apelo sensacionalista, como toda "boa" matéria, para capturar o público, porque a BBC News Brasil faz parte de um "mercado" que disputa telespectadores e busca "sucesso".   

Eu seria ingênuo se pensasse que isso é feito simplesmente porque um jornalista pensou essa pauta e sua chefia aprovou. E seria maniqueísta se dissesse que a matéria foi pautada com um objetivo preciso de atender a determinado interesse. Uma matéria é sempre uma escolha. Minha experiência jornalística me ensinou que no topo das empresas jornalísticas está uma elite intelectual ideológica que orienta o conteúdo produzido. Não é uma ditadura, não tem  censura, talvez não tenham sequer um "manual", como fizeram jornais brasileiros há algumas décadas (imagino que ainda existam). É um modelo de produção que vai moldando os profissionais para seguirem determinada linha, porque tal pauta é "boa", outra é "ruim", e todo jornalista quer fazer uma boa matéria com repercussão. 

O fato é que a matéria afirma que o Japão parou no tempo porque não seguiu a modernização tecnológica com desemprego em massa e baixos salários que o capitalismo impõe no mundo inteiro, e esta é a mensagem. É assim que a ideologia funciona e é assim que a imprensa, até a melhor dela, contribui para formar a mentalidade que leva a espécie humana para a catástrofe.

 

terça-feira, 1 de abril de 2025

Música do dia: Woman, John Lennon

Ou será essa a mais bela canção de amor? Uma pérola, poesia de primeira. "The little child inside the man." 

segunda-feira, 31 de março de 2025

Música do dia: Juventude transviada, com Luiz Melodia e Cássia Eller

"Até sonhar de madrugada / Uma moça sem mancada / Uma mulher não deve vacilar." Um encontro raro, um daqueles momentos especiais que só a arte propicia.

Adolescência: meninos desesperados por modelos de comportameto

Ouvi uma mãe, se não me engano uma psicóloga, falando sobre isso há algum tempo, acho que na própria BBC: o outro lado, os meninos. Foi a primeira voz que ouvi falando sobre o assunto. Essa reportagem entra no assunto. Me faz pensar na crise da esquerda: sem proposta para eles, deixou os pobres (trabalhadores ) para serem conquistados pela direita. Deixou também os homens? 

domingo, 30 de março de 2025

Música do dia (2): Fullgás, Marina Lima

"Nada de mau nos alcança / Pois tendo você meu brinquedo / Nada machuca nem cansa." Antônio Cícero foi um grande poeta.

Música do dia: Help!, The Beatles

Um vídeo completamente non sense. A canção é um ícone do rock e a letra mostra a genialidade do John para expressar a condição humana na juventude. Genial porque simples, é isso mesmo. É impressionante a autoconfiança das crianças, que são frágeis. Quando a gente se torna adulto, gente grande, "independente", a segurança desaparece. Como acontece isso? Por que acontece? É porque "as portas de abrem"... A segurança das crianças vem da confiança incondicional nos seus pais, no amor da mãe em especial, mas também na força do pai, na onipotência de ambos, enfim. E é por isso que o homem adulto busca o amor romântico (com as mulheres é diferente, não ouso tentar explicar, está além da minha experiência e da minha capacidade) e depende da mulher amada (a Bossa Nova não cantou outra coisa e os Beatles também não), que é a substituta da sua mãe. Na história musical do John Lennon, que foi criado sem pai e mãe, isso é evidente. E nos deus tantas pérolas, de Help! a Woman, passando Mother, God, Jealous Guy e Oh Yoko!, para citar algumas.

"When I was younger, so much younger than todayI never needed anybody's help in any wayBut now these days are goneI'm not so self assuredNow I find I've changed my mindI've opened up the doors

"And now my life has changed in, oh, so many waysMy independence seems to vanish in the hazeBut every now and then I feel so insecureI know that I just need you likeI've never done before"

sexta-feira, 28 de março de 2025

Uma análise ampla sobre o que está acontecendo na internet

Bruno Torturra faz uma excelente análise, ampla e oportuna, sobre o que está acontecendo aqui, na internet, nas redes sociais, que se tornaram a grande mídia contemporânea, com seus magnatas, agora alinhados numa nova extrema direita internacional liderada pelo presidente americano. Tenho o que dizer sobre isso, mas estou amadurecendo.

Boletim do Fim do Mundo - Ainda Estamos Aqui...